«Começa a revolução e quando queimam conventos e expulsam religiosos, me aconselham a sair de Espanha e procurar em França um lugar de refúgio. Assim, três religiosas vamos ao Sr. Núncio, pedir a bênção e a autorização, ele faz-nos desistir da viagem a Paris, aconselha-nos a ir a Portugal com especialíssimo encargo de nos dirigirmos aos Jesuítas Espanhois e que de sua parte lhes roguemos que cuidem de vós. As companheiras se opunham e eu lhes disse: “se querem voltem para Berja que eu vou aonde o Senhor, por meio de seu santo prelado, nos manda ir, eu vou sozinha!…”. M.T. Esc. Cad. 3
A rota portuguesa, poderíamos chamá-la “Rota Providencial”. Portugal deixa de ser “imprevisível, ignorado, a providencial e salvador”. Não entrava nos planos da Madre Trindade; foi por orientação do Senhor Núncio Tedeschini, por pura obediência nua e crua, não conhecia ninguém e acabou por ser lar, desenvolvimento familiar, consolidação da sua Obra e projeção de futuro. Em Portugal foi abençoada por Deus. O objetivo da Madre ao ir a Portugal é encontrar refúgio para as suas monjas e tirá-las do perigo que correm na Espanha da República onde a queima de conventos, a execução e assassinatos de religiosos, sacerdotes e monjas é uma terrível realidade. Ali a Madre conheceu e foi ajudada mui especialmente pelos jesuítas espanhois que, como elas, estavam refugiados nesse país irmão. Instalaram-se bem perto da Universidade Católica de Braga e nessa Faculdade há um grupo de insignes Padres Jesuítas procedentes da Universidade de Deusto. Há um canonista de renome, P. Isácio Morão S.J. que a ajuda a dar forma às Constituições que a Madre Trindade tinha escrito e que pretende enviar a Roma pedindo a aprovação do que já está evoluindo para uma Congregação de Vida Mista, algo diferente do projeto inicial e que lhe está trazendo grandes dificuldades. Encontra apoio nos Padres Franciscanos de Montariol e é bem acolhida por vários bispos entre os quais se destacam o Primaz de Braga D. António Bento Martins Júnior, e o Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira. Com a ajuda destes prelados e de outros através deles, a Madre Trindade conseguiria cartas de recomendação para que a Sagrada Congregação lhe desse a aprovação definitiva das Constituições.
Desde a sua primeira viagem a Portugal em 1933 até à última em 1948 fundou em várias localidades, entrarão muitas jovens portuguesas, ocorreram muitos factos significativos como a abertura do primeiro noviciado comum e o primeiro internato da Congregação na cidade do Porto e até se estabeleceu por uns anos em Lisboa a Casa Geral. Significativamente, a Rota Portuguesa é, na vida e obra de Madre Trindade Carreiras Hitos a “Rota de Ouro”.
No dia 31 de julho de 1933 saíram de Madrid para Salamanca, onde receberiam os passaportes para entrar em Portugal. Os trâmites adiantaram-se através duma jovem que vivia com as religiosas do Serviço Doméstico que era amiga do Cônsul português.
Assim puderam partir para o Porto, onde chegaram à tardinha do dia 4 de agosto. Se bem que iam para fundar, como no texto citado a Madre Trindade reconhece, «desorientadas de todo e com pouquíssimos recursos» foram dissuadidas a não fundar na cidade por ser muito pobre e desconhecedora da vida contemplativa.
Ao chegarem puseram-nas ao corrente das dificuldades que umas monjas de clausura podiam encontrar numa cidade como o Porto. No dia seguinte os jesuítas disseram-lhes o mesmo e encaminharam-nas para Braga, cidade muito religiosa e com um Arcebispo amante da vida contemplativa. Naqueles anos quando as viagens se faziam de comboio, o Porto era um lugar de passagem entre Braga e Espanha. Havia também a necessidade de abrir novas casas para poder obter a aprovação de Roma. Por isso a Madre Trindade decidiu-se a fundar no Porto e para ali se dirigiu em agosto de 1936. (V.O. pág. 145-146)
O Porto foi o seu segundo destino fundacional em Portugal. Nossa Madre teve a inspiração de que era conveniente preparar outro “pequeno pombal”… Com este pensamento e levando como companheira a M. Conceição da Sta. Cruz, foi ao Porto expor o seu desejo ao Sr. Bispo. Este recebeu-as com os braços abertos e atendeu-as abrindo de para em para as portas da sua diocese.
Chegaram à atual casa da Congregação no Porto, em outubro ou novembro de 1948,antes estiveram em várias instalações, até que encontraram o que reunia as melhores condições para o seu género de vida. Recordemos que neste momento, eram monjas contemplativas, reedificando, por assim dizer o carisma dado pelo Espírito Santo, quer dizer, evoluindo para uma congregação de vida mista.
Neste tempo, dia 16 de julho de 1936 chegaram a Braga 6 religiosas de Berga: Madre Consolo de Jesus, Irmã Sacramento da Mãe de Deus, Irmã Carmem Maria, Irmã Maria de Jesus, Irmã Josefina e uma jovem de Guadix , recém entrada, chamada Dolores Soriano, futura Irmã Maria Francisca de Assis. O Senhor Arcebispo de Granada, movido pelas cartas cheias de dor de Madre Trindade, concedeu por fim a licença para que saíssem as anciãs ou débeis, desde que em Berja ficassem suficientes para seguir a vida regular. Ao passar por Madrid já lhes foi muito difícil arranjar os passaportes, e foi possível apenas com a ajuda do Sr. D. Eusébio Péres-Fúster, cunhado da Irmã Maria de Jesus que lhes conseguiu tudo. Por questões políticas acelerou-se a partida das monjitas e apenas entradas em Portugal, estalou em Espanha a terrível guerra que durou três anos. Com a chegada das monjitas de Berja tornou-se mais necessária a fundação do Porto. A casa de Braga era pequena para tantas e, não tendo ajuda de Espanha, os recursos escasseavam e mais que nunca era necessário o trabalho das irmãs e as esmolas dos benfeitores. Convencida de que podia ser, resolveu ir para o Porto.
Foi uma fundação estilo teresiano, Frei Abílio, cumprindo seu encargo, arrendou uma casita pequena na Rua Antero de Quental; comprou umas camas de ferro… pouco mais. No dia da Virgem da Assunção a comunidade saía de retiro dado por um Padre Jesuíta espanhol, Revdo. Padre Virgílio Revolta, que com sua eloquência e palavras inteligíveis tinha deixado as monjas ardendo em amor de Deus e cheias dos melhores desejos, dispostas aos maiores sacrifícios… Este arsenal de reservas ia ser-lhes bem necessário. Nossa madre, acompanhada da Madre Conceição, Irmã Teresinha, Irmã Clara e as noviças Irmã Aurora e Irmã Laurinda dia 17 saiu da casa de Braga de tantos e queridas recordações. Chegadas ao Porto instalaram-se na casita que o bom frade lhes tinha preparado. No dia 25 de agosto saíram de Braga, a Irmã Maria da Eucaristia, e a Irmã Coração. Saída dolorosa pela separação, mas chegadas ao Porto alegres porque a Irmã Eucaristia encontrava sua Muito querida Madre, e as outras viam mais uma companheira para a luta da fundação. Ali começaram a vida regular na pobreza e na alegria. A Madre Trindade nos recorda os sentimentos daqueles dias: “Bom, minha filha, ontem cheguei cansadíssima e hoje, às 12 da noite, é a primeira carta que escrevo. Estive a ler a sua carta e essa casa que lhe oferecem, parece-me muito bem…”. ( M.T. carta à Madre Clara de Jesus. 21 de abril de 1948. Madrid).
Depois de várias mudanças, buscando o sítio ideal para viver em plenitude a sua consagração, em 1948, a comunidade se transladou à casa comprada para esse fim na Rua Tenente Vidal Pinheiro nº 23, atualmente Santa Isabel. Porto será a primeira comunidade que a Madre Trindade dedica à formação de meninas em Portugal. E como curiosidade dizer-vos, que as únicas fotografias da Madre Trindade com meninas, são da sua passagem pelo Porto.
Texto citado: Seguindo os passos de Madre Trindade