Jesus, esse “louco” de amor que pode chegar a fazer-nos “loucos” é real. É mais que uma necessidade, uma utopia, um sonho. Assim o experimentou nossa Madre, sempre próximo e amigo. O Senhor a cativou desde muito pequenina. Assim é forte o atrativo de Jesus para as almas que o amam, o escutam, o levam sempre consigo. Esse atrativo tornou-se para a Madre Trindade em estado. Explicaremos porquê.
Sempre que perguntámos a alguma de nossas irmãs qual era o seu estado civil, a resposta mais ou menos foi a mesma: “Para a lei sou solteira, para mim estou casada, sou esposa”.
Esse sentir-se “esposa”, é também uma declaração de companhia (a de Jesus), um grito fecundo desse “Alguém que nos habita e nos ama”.
Quando morreu sua mãe, Merceditas (futura Madre Trindade), fica num estado de incerteza, um período triste que com o tempo se abriu à esperança, mas que sem dúvida marcou sua vida e seu carater.
Seu pai contrai novas núpcias, Mercedes vê a fragilidade do amor humano, sente que é tão fugaz que se pode trocar, substituir… Ele vive-o como algo não de todo positivo, embora saibamos que na época era completamente normal, e tendo em conta a carga de toda a família que ficava ao cuidado da cabeça da família. Não o entendeu, suspirava por um amor grande, insubstituível, eterno, um amor que não se pudesse trocar por nada, que não abandonasse e não morresse. No seu testemunho escrito diz-nos: “Não conseguia ultrapassar a situação e vendo-me sozinha abri a portita do oratório abracei-me àquela linda imagem e num ímpeto de filial amor e confiança disse-lhe: Minha Mãe, eu quisera um homem carinhoso e fiel que não se esquecesse de mim, e que, se o papá fez isto com a mamã, pôr a seus filhos outra mulher por mãe, eu só te quero a ti, minha mãe. E vi que a divina Mãe meu deu o divino Menino que tinha nos seus braços dizendo-me: “Este será teu Esposo a quem te entregarás com todo o amor do teu coração e ele te dará essa fecundidade espiritual que Jesus espera para sua glória de teus sacrifícios e dores: muitas almas que o sigam e o amem”.
Neste contexto, Jesus se vai fazendo mais presente na vida da Madre, suas redes de amor, que a reclamam para outros mundos, muitas crianças e um sem número de obras boas, a vão estreitando ao seu Coração.
Ele mesmo lho pede, quer ser seu Esposo, o que ela espera. Ele não abandona nem morre. Embora os seus planos ou pensamentos fossem outros, Merceditas deixa-se cativar. É Jesus e sua presença que vai transformando cada canto ou intuição na vida de Madre Trindade. Faz-se encontradiço na oração e no sacrário. É ali e nos seus momentos íntimos onde se manifesta e lhe faz compreender, anelar, outros rumos, outros horizontes.
Esse mesmo Jesus, a quem muitas vezes menciona e qualifica com o título de Esposo, é quem a leva pela mão, a faz saborear suas bondades e delicadezas, embora no meio de provas, de uma difícil situação conventual e de austeridades. Para ilustrar o que dissemos, sendo já monja em Santo Antão, escreve: “Bendito sejas dulcíssimo Jesus! que vos manifestastes naqueles austeríssimos claustros tão doce e sorridente como se vos víssemos em todas as coisas como diletíssimo Esposo de minha alma visse vossa incomparável beleza por todos os lados daquele convento e em cada uma daquelas austeríssimas e boníssimas religiosas, que com tanto carinho me receberam e algumas anciãs e veneráveis religiosas ao prestar-lhes algum serviço costumavam dizer: “Esta criança é um dom de Deus, um presentinho que há doze anos veio consolar-nos” ( pois havia doze anos que não morria nenhuma e tinham o número completo de 33, não admitiam mais, e por uma graça especial, em atenção à recomendação do P. Ambrósio que então pregava a novena da Santíssima Virgem das Angústias em Granada, me receberam graças a Deus)”.
No fim, quero partilhar um extrato, tirado do “ATO DE CONSAGRAÇÃO A JESUS SACRAMENTADO QUE FAÇO DESDE O DIA DE MINHA PROFISSÃO”. Nele, ela vê-se como os discípulos de Emaús, à beira do caminho, peregrinando para o céu, por sendas empoeiradas e riscos insuperáveis, mas nunca sozinha, Jesus seu Esposo sempre a acompanhava: “Oh dulcíssimo Jesus sacramentado por meu amor! Companheiro inseparável da minha peregrinação para o céu: Vinde hoje ao meu coração para sempre, possuí-o, guardai-o puro para vós, amante e fiel, como hoje vo-lo venho a consagrar, dignai-vos derramar sobre minha alma a divina graça com toda a plenitude dos vossos dons. Sê de só, vós para mim, todas as coisas! Consagro-me para sempre a vós, para que sejais meu amantíssimo Pai, meu diletíssimo Esposo, meu Mestre e diretor de minha alma. Guiai-me vós, dulcíssimo Jesus de minha alma, Jesus. Vinde a mim meu Deus! Vinde fazer em mim a perfeita renovação que desejo em vós, pela qual ardentemente suspiro. Agora promete fidelidade a todas as vossas inspirações e desejos. Que vos ame sempre, meu Jesus!”
